Outro dia fui a um aniversário de criança, comemorado num desses buffets especializados em festas para a garotada. Tudo bem colorido, mas bem colorido mesmo, meio psicodélico até. Logo que você chega vem alguém do tal buffet receber o presente pelo aniversariante. Acho estranho essa coisa de não entregar o presente ao dono da festa… Eu tinha comprado algo que era a carinha dele e estava ansiosa pra ver sua reação. Enfim, tive que deixá-lo nas mãos da recepcionista, que mal escreveu o meu nome no pacote e o jogou dentro de uma espécie de baú junto com outros. Bem… Acomodada numa mesa, diante de um prato cheio de salgadinhos oleosos, reabastecido pontualmente por uma garçonete que não devia ter mais que 20 anos e se encontrava bem esbaforida, tentei me entreter com o ambiente. As crianças ficavam de um lado, dispersando-se entre as atrações daquela mega produção: piscinas de bolinhas, discoteca, vídeo games e etc, etc e etc. Os adultos sorviam a cervejinha, uns poucos olhando seus rebentos (ou fazendo de conta que). Aquilo… Cada um no seu quadrado.
Lembrei das festas feitas em casa, quando eu era criança. Foi saudosismo o que senti.
Aquelas festas, feitas em casa tinham outra energia. Eram mais acolhedoras. Podiam não ter uma decoração temática tão efusiva como as festas de hoje. Geralmente, só o bolo tinha “tema” e era restrito: florzinha, castelo de princesa, palhaço, carrinho… Podiam não ter piscina de bolinha, mas não deixavam nem um pouco a desejar na diversão.
O bolo era feito por alguém da família, com talento para tal ou, no máximo, por uma boleira conhecida da família. Ok, tinha aquele glacê de gordura vegetal e açúcar indigesto, mas a gente tirava e comia o recheio de doce-de-leite. Decoração era balão (bexiga, na minha terra) e arrumado em grupos de 4 ou 5 espalhados pela sala e só. Escultura de balão não tinha. Mas tinha uma faixa de cartões onde se lia “Feliz Aniversário” em letras coloridas. Na mesa do bolo, bandejinhas de brigadeiro, beijinho e olho de sogra, às vezes cajuzinho. Nos cantos da mesa, ficava a repolhuda bandeja de 2 andares sustentando uma linda e farta cascata de balas de côco embrulhadas em papel colorido. Copinhos, pratinhos e chapeuzinhos, todos de papelão e nem tinha ainda essa moda ecológica. Aliás, os chapeuzinhos tinham um elástico que incomodava a ‘papada’ da gente. Alguns vinham com figuras infantis, para menino ou menina, mas a maioria era só colorida mesmo.
Nossa… Agora me lembrei de uns enfeites para as garrafinhas de guaraná. Língua de sogra… Por que tiraram as línguas de sogra dos aniversários? As guloseimas não eram variadas, mas faziam sucesso: sanduíches com patê, maionese no copinho ou na barquete, aquela batatinhas redondinhas mergulhadas num molhinho vinagrete, canudinho, casquinha de pão torrada…. Coxinha, risóles de Catupiry, kibezinhos, bah… Isso veio com força depois, bem depois, no início da adolescência, se me lembro bem.
Se houvesse algum adulto com inclinação para recreacionista, ótimo! O entretenimento da garotada ficava por conta dele! Na ausência dessa figura a gente brincava com o que tinha. Lembro que uma vez fui à uma festa de uma amiga da escola e nessa festa tinha um mágico. Achei maravilhoso ter uma festa com mágico! Passei a desejar um mágico também nos meus aniversários. Só fiquei no desejo…
Receber o presente das mãos do convidado era uma atitude obrigatória para mostrar aos outros a boa educação que eu recebia. Abria o pacote na frente do conviva e dizia “obrigada”, sorrindo. Mesmo se fosse roupa – como uma criança normal, eu odiava ganhar roupa. Aliás, fazia parte da cena passar pelo constrangimento de ter a mãe sobrepondo a roupa sobre o seu corpo pra ver se servia, hehe. Mas estava tudo certo, desde pequeno a gente aprende que na vida é preciso relevar certas coisas em nome da boa convivência social.
É claro que sei das demandas urgentes que a vida atual nos traz, e que faz pais e mães caçarem um meio de poupar trabalho na hora de festejar mais um aninho de vida de seu pimpolho. Entendo, porque eu mesma já me vi nessa situação 3 vezes. Ter quem faça a festa por nós é super confortável, afinal, são horas do dia poupadas em não ter que fazer a massa dos brigadeiros, rearrumar a geladeira para caber as bebidas (ou encher o tanque de gelo para acomodar as que não couberam no refrigerador). Também é bom não ter a boca assada de tanto encher balão, fazer saquinho de lembrancinha…. Mas vai dizer se toda essa preparação não era o melhor da festa?
Também acho que a festa em casa, além de sair mais barata para os pais, mostra à criança outros valores. Se ela ajudar a preparar a festinha, enrolando os brigadeiros, por exemplo, entende a importância de colaborar. Receber os amiguinhos dentro de casa, aprende a partilhar e a ter responsabilidade. Aí o evento ganha outro sentido, percebe? E ela (a criança) não vai deixar de ser a estrelinha do dia. 😉
PS: Tirando a primeira foto (arquivo pessoal) as outras duas imagens vieram deste site, que vende acessórios lindinhos pra fazer festinha em casa. Olha só: http://parangolefestas.blogspot.com.br .